Vinicius Albuquerque - extraído do Jornal Destak

biografiasA briga sobre biografias não autorizadas já rendeu o bom fruto de dar novas caras ao verbete “hipocrisia”. Mas, a mim, fica a pergunta: por que, afinal, ler biografias?

Esqueça o debate do limite à liberdade de expressão – este seque se põe: ela é o valor central da democracia. Aceitar tal debate é qualificar a posição dos tarados por censura, o que não pode ser. O biografado pode alegar tudo, menos desconhecer a curiosidade mórbida do distinto público. Azar dele: se queria intimidade indevassada, não se fizesse alvo dessa curiosidade.

Que diabos há nos bastidores da vida de alguém – artista, político, atleta – que atrai tanto? Muitas vezes o leitor sequer conhece a obra do biografado (quantos fãs de Steve Jobs entendem realmente de tecnologia?) A vida dissoluta de Mozart torna sua obra mais sublime? Saber que Newton tinha uma personalidade difícil facilita entender a física? Quantos dos que leram a história de John Nash entendem a teoria dos jogos?

Quem lê biografias, no geral, quer é o detalhe sórdido – proezas sexuais, dramas familiares, crises financeiras. A mediocridade das fofocas. Eleanor Roosevelt disse: grandes mentes discutem ideias; as medíocres discutem pessoas.

Por isso, caro leitor, na próxima vez em que for à livraria, ignore as pilhas de biografias e arrisque uma ida à seção de exatas.

Mais ciência e menos pessoas: assim, você fará da sua uma biografia admirável.