Eduardo Pena

Fui ao cinema com a minha família na estreia do filme Paulo, Apóstolo de Cristo. Chegamos cedo para evitarmos filas e também porque gosto da ambiência do cinema – pode ser por causa do cheiro de pipoca que me faz lembrar momentos festivos da infância. E o cinema em que fomos estava todo equipado para uma outra estreia mais pomposa e robusta, com um grande painel – inclusive preparado para quem quisesse tirar fotos ao lado dos heróis da Marvel. Tinha muita gente fazendo isso. Para o filme do Paulo, o Apóstolo, apenas o cartaz da parede que indicava os horários.

Sala 3 era a nossa sala. Uma sala pequena na qual fomos os primeiros a chegar. Ficamos a sós por um bom tempo. Sentamos e era perceptível a forte movimentação acontecendo na sala ao lado – a sala dos super-heróis e heroínas do cartaz.

Pensei que seríamos as únicas pessoas da Sala 3, mas quando estava para começar o filme, entraram mais duas famílias – umas 9 pessoas. Ali então, éramos 12 – assim como o grupo dos Apóstolos de Cristo – os que iriam acompanhar a narrativa dos últimos dias da vida de Paulo (que para mim, o verdadeiro substituto do traidor).

O filme traz a ambiência louca da Roma dos anos 60 do primeiro século, em que cristãos eram perseguidos, ridicularizados, presos, torturados e mortos.  Nós sabemos das histórias do Coliseu com seus leões e gladiadores, das tochas humanas iluminando a cidade… tudo embalado pela insanidade incandescente dos imperadores – no contexto aqui, de Nero.

Me surpreendi positivamente com o que pude ver na narrativa, que respeitou muito a fonte de onde se inspirou. O filme é uma mescla de tensão e esperança. Quase sempre com cenas fechadas que nos fazem ficar “cara a cara” com os personagens. Os dramas, os medos, as aflições, as alegrias; tudo estampado nas faces e gestos. Assim é a vida real: Cada um vive as tramas da sua história sem efeitos especiais dos super-heróis ou dublês para as horas difíceis. A de Paulo é marcada pelo seu ardor religioso contra os cristãos antes do seu encontro com o Cristo no caminho de Damasco, que muda radicalmente a sua vida. O perseguidor passa a ser perseguido. O filme retrata como este passado insistia em atormentar a mente de Paulo – talvez o seu espinho na carne que foi a sua luta por toda a vida? Ah, o passado! É como os vilões das estórias que sempre ressurgem para nos perseguir.

O filme também fala de amizade e companheirismo – o que vai sustentar a comunidade naqueles tempos de perseguição. Lucas, o médico escritor, é honrado pela sua fidelidade para com Paulo e a sua coragem de acompanha-lo na prisão até o fim. A disposição de Lucas em deixar o legado de Paulo registrado marca de vez o Cristianismo, pois os seus escritos de esperança vão fortalecer e iluminar os cristãos de todas as regiões – e de todas as épocas! Esta é a base do filme: Atos de Lucas produzindo Atos dos Apóstolos que narra atos de Paulo que marca os atos da igreja, numa história escrita com sangue mártir.

O filme chega ao fim. As luzes se acendem… também dentro de mim. O silêncio só não era absoluto porque nos chegavam os sons das lutas dos super-heróis da lotada sala ao lado. Saí com várias certezas. Dentre elas que os heróis de verdade são aqueles que sofrem, transpiram e se doam por uma causa maior do que a própria vida. E que afinal, o que vai prevalecer não é a força dos vingadores, mas a força do amor, como o próprio Paulo nos faz lembrar: “O amor é o único caminho; é sofredor, mas tudo suporta!”. A sala estava vazia, mas o coração saiu cheio.