Eduardo Pena

chapecoense

Quando uma tragédia bate à nossa porta é que conseguimos perceber o que de fato importa na vida. A notícia da queda do voo que levava o time de futebol da Chapecoense para disputar a maior final da sua história trouxe para os familiares e amigos a pior e mais inesperada notícia das suas vidas. A alegria deu lugar à tristeza; e a pior das tristezas, aquela vinda das tragédias. O encontro desconfortante com o inesperado. Assim como aconteceu quando da tragédia do voo da Air France 447.

É próprio das tragédias a invasão do sentimento de normalidade e controle. E quando elas entram em campo, a vida parece perder o sentido; as coisas ficam de “pernas para o ar”. As palavras se enfraquecem; o olhar fica sem horizontes… como uma escola sem alunos… creches sem crianças… as velas, sem ventos… parecemos naus sem porto.

E todos nós precisamos de um porto seguro. E as tragédias vem nos denunciar que não os temos o suficientemente.

Vivemos num mundo de alegrias programadas – festas agendadas, shows e eventos esportivos com data e lugar previamente definidos. As regras são estabelecidas e acordadas. Nos nossos planejamentos não cabem as tragédias, por isso elas causam tanto transtornos e nos deixam perplexos, pois simplesmente, deixam nossas agendas sem sentido ou sem validade.

Como sobreviver depois de uma grande tragédia?

Não é fácil encontrar respostas simples quando o questionamento vem motivado por um sofrimento real e profundo. Como seria bom se tivéssemos respostas prontas.

Mas a vida é rica e múltipla. Fomos criados com a aptidão de achar caminhos e cavar saídas no mais inóspito terreno das emoções. Alguém já disse que a dor é uma espécie de cultivo para nos tornar mais humanos, pois nos faz experimentar a profundidade de viver de verdade. É aquela impressão de sermos mais do que espectro de homens. De fato nem toda a realidade da vida cabe na nossa capacidade de mensuração.

A dor tem a habilidade de aproximar as pessoas. É notório que o “espírito humano” se manifesta fortemente nas horas de adversidades. Mães se identificam com outras mães que choram a perda do filho; pessoas que nem conhecemos nos fazem chorar… um pranto de alma misturado com uma indignação que só sabemos expressar por meio de lágrimas; e nada é tão solidário quanto a lágrima.

A dor pode nos paralisar, mas também nos faz enxergar que não estamos sozinhos. Que a conspiração divina faz com as nossas agendas se abram para as agendas das outras pessoas. Marcarmos e sermos afetados pelas histórias de outros, que pela dor, se transformam em próximos. Nenhuma história é destinada a ser um trágico enredo, mesmo quando tudo parece desmoronar.

A história de Jesus tinha tudo para ser uma tragédia, pois foi identificado como “homem de dores”. Só não o foi porque ele venceu plenamente a vida e morte. E é exatamente esta vitória que abre para nós a esperança viva de que temos um dia depois do amanhã – um amanhã depois do dia da dor.

“Eu [Jesus] lhes disse essas coisas para que, por estarem unidos comigo, tenham paz. Neste mundo vocês vão sofrer; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo.” (João 6:33)

Texto Bíblico Utilizado: João 6:33