Átila

Analise esse diálogo:

Escritor (*): Estou escrevendo um livrinho chamado “Por Que Tenho Medo de lhe Dizer Quem Sou?”.

Outra pessoa: Você quer uma resposta para isso?

Escritor: Essa é a finalidade do livrinho, responder à pergunta.

Outra pessoa: Mas você quer a minha resposta?

Escritor: É claro que quero!

Outra pessoa: Tenho medo de lhe dizer quem sou porque, se eu lhe disser quem sou, você pode não gostar e isso é tudo o que tenho.

Quantas vezes eu mesmo pensei dessa maneira! Creio que esse diálogo reflete um pouco dos medos que nos aprisionam e das dúvidas que nos enfraquecem, impedindo-nos de caminhar para frente, em direção à maturidade emocional. E quem já não se sentiu compelido a esconder o que verdadeiramente é por medo de não ser aceito? Muitas vezes as dores, desilusões e machucados nos relacionamentos podem gerar defesas que idealizamos para nos proteger de uma vulnerabilidade ainda maior. Elas tendem a se tornar padrões de ação e reação diante da diversidade e “imprevisibilidade” de situações que nos aguardam todos os dias.

O problema é que esses padrões podem se tornar tão enganosos que acabemos perdendo todo o senso de identidade. Migraremos para desempenhar “papéis”, vestir “máscaras” e montar entroncados “jogos de relacionamento” como se fossem a expressão real do que somos por dentro. Creio que um número significativo não deseja ser uma fraude ou viver uma mentira. Creio que um número significativo não quer ser uma pessoa falsa ou fingida. Mas os medos que experimentamos e os riscos envolvidos numa auto-comunicação* honesta parecem-nos tão intensos, que torna-se quase uma ação natural e automática o buscar refúgio em nossos papéis, máscaras e jogos de relacionamento. Mas, de novo, pode acontecer que, depois de um certo tempo, torne-se difícil distinguirmos o que realmente somos do que mostramos ser, num momento qualquer de nosso desenvolvimento como pessoa. Esse é um problema humano tão universal, que alguns autores têm chamado, com razão, de “a condição humana“.

Mas agir dessa maneira exige um tremendo esforço e se torna um fardo pesado que precisa ser aliviado! Alguns procuram alívio através dos vícios e fugas da realidade interior e dos diversos outros esquemas que utilizam para escapar desse fardo. Em vão…

Um trecho da Bíblia que tenho compartilhado com alguns amigos e procuro praticar é:

“Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo: Deus é a nossa salvação.”
Bíblia, livro de Salmos, capítulo 68 verso 19

O gostoso de andar com Deus, compartilhar toda a vida com ele, é que ele sabe dessas minhas dificuldades e me ajuda a trazer à tona (restaurar) a verdadeira identidade! Ele ajuda nesse trabalho de alma que tenho que fazer para equilibrar minha postura em relação a mim mesmo e às pessoas. Ele é um verdadeiro AMIGO! Por isso, depois de pedir que Deus seja sua salvação e que lhe ajude a levar esse ou qualquer outro fardo, pode começar uma nova caminhada em paz e equilíbrio.

(*) “Minha pessoa não é como um núcleo rígido dentro de mim ou uma pequena estátua permanente e fixa; pelo contrário, ser pessoa implica um processo dinâmico. Em outras palavras, se você me conheceu ontem, por favor, não pense que eu sou a mesma pessoa que você encontra hoje. Experimentei mais da vida, encontrei novos sentimentos naqueles a quem amo, aprendi mais com Deus, sofri, orei e estou diferente por dentro. Por favor, não me atribua “valor médio”, fixo e irrevogável, porque estou sempre alerta, aproveitando as oportunidades do dia-a-dia. Aproxime-se de mim, então, com um senso de descoberta, pois é certo que mudei. Mas, mesmo que você reconheça isso, posso estar um pouco temeroso de lhe dizer quem sou.” J.Powell.

Que Deus, que é Salvação e leva o fardo, o ajude (que você se ajude!) e que nos ajude, também, a encontrar o equilíbrio e nossa identidade verdadeira nele.

Um abraço,

* John Powell, “I Afraid to Love?” (Argus Communications, 1967) e “Por que Tenho Medo de Lhe Dizer Quem Sou?” (Editora Crescer 1998)

Texto Bíblico Utilizado: Salmos 68:19