Eduardo B. Pena

c-s-lewisEntrei numa livraria “evangélica”, dessas com nome bíblico na placa, com a intenção de comprar o livro clássico da literatura da cristandade: “Cristianismo Puro e Simples” do C.S. Lewis, para dar de presente a um amigo interessado em conhecer melhor a fé cristã. De cara achei o ambiente da loja um pouco tumultuado. No início não sabia explicar o porquê dessa sensação: Se era o excesso de material acumulado nas estantes; se eram os corredores apertados; ou mesmo, se o volume da música que rolava, para mim, um pouco acima do que o ambiente suportaria. De qualquer forma, entrei procurando me situar dentro daquele recinto “gospel” intenso. Uma senhora atendente, saindo de trás do balcão, de onde acabara de embrulhar uma compra, veio em minha direção na tentativa de me ajudar a não ter uma crise de labirintite.

“Por favor, o livro Cristianismo Puro e Simples do C.S.Lewis” – disse logo.

“Cristianismo…?” – ela indagou como se eu falara num outro idioma.

“… Puro e Simples! do C.S. Lewis” – respondi pausadamente.

Deu pra notar que, apesar do sorriso gentil da atendente, a expressão de quem estava perdido agora era dela.

“É lançamento? Pois não me lembro desse título! É que trabalhamos, sabe, com uma variedade enorme de livros. Vou ver no catálogo das editoras se encontro.”

Nem deu tempo pra dizer que a obra é fruto da década de 1940, pois ela saiu deslizando por entre as prateleiras, ziguezagueando veloz, como um skatista, até o fim da loja. Entre bíblias coloridas, DVDs, CDs, chaveiros, camisetas… e claro, uma variedade de livros estampando gente que me pareciam conhecidas de algum lugar, fui tentando segui-la, já um pouco desanimado por imaginar que todo esse esforço não daria em nada.

E de fato foi o que aconteceu. Depois de se desculpar (na verdade, se justificando), me informou que nada encontrou nos catálogos das editoras com as quais trabalha e que se eu quisesse, veria com o dono da franquia e me retornaria.

Agradeci pela atenção e me despedi. Quando fui saindo é que percebi que a voz insistente da “cantora” que me chegava aos ouvidos pelo som da loja, tentava de me convencer, aos gritos, de que tenho que “tomar posse” de algo e que alguém muito poderoso estava liberando “poder e unção, meu irmão” para vencer todas as dificuldades.

Ao sair dali, ainda buscando me situar, voltei à realidade e descobri que precisava comer alguma coisa antes de ir para o trabalho. Ao entrar num shopping, passando por uma livraria “secular”, pude identificar entre os livros de ficção expostos numa vitrine, um do C.S. Lewis. Parei e resolvi entrar.

“Por favor, você teria o livro Cristianismo Puro e Simples do C.S.Lewis?”.

“Vou ver para o senhor.” – disse o atendente. Deu alguns passos em direção ao computador um pouco mais a frente.

“Temos sim!” – Disse, atencioso, já caminhando até uma estante de onde puxou o exemplar desejado, dentre outros títulos conhecidos que pude ligeiramente identificar – além do próprio Lewis – de Agostinho, Calvino, Thomas Merton…

Peguei. Agradeci. Fui até ao caixa. Pedi para embrulhar para presente. Paguei e fui saindo, satisfeito por ter encontrado. Admirado… quando observei que tinha um som ambiente rolando que dizia algo como: “se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós, tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz … tenho que ter mãos vazias … aceitar a dor … apesar de um mal tamanho alegrar meu coração … tenho que me aventurar…”

Saí leve como uma pena … agora em direção ao restaurante para o alimento material.