Quando a verdade deixa de ser a razão

Eduardo Pena

Ultimamente temos assistido o confronto entre a Rede Record e a Rede Globo numa verdadeira disputa de quem expõe mais as mazelas históricas da outra emissora. Uma verdadeira guerra entre as duas emissoras que ultrapassa as linhas da informação que adentram nossos lares. E pelo que temos vistos, as bordas manchadas das roupas já não encobrem a vergonha mútua por onde andaram.

São acusações explícitas que extrapolam a notícia em si, pois parecem ancoradas no desejo de sobrepujar um concorrente direto. Como diria Pierre Bourdieu, em sua análise da sociedade contemporânea, uma radicalização de relações de forças manifestadas dentro de uma área de significação, expressas por um espírito dinâmico de competidores que se chocam num campo de batalha.

Já se levantou a pergunta: “Quem tem razão no caso?” Como se conflitos sempre fossem motivados por intenções corretas. Talvez a pergunta mais apropriada seja: “Há razão verdadeira no caso?” Pois fica no ar, se o que está em jogo é a busca da verdade ou simplesmente, a apresentação dos melhores argumentos sustentando registros de “provas”? Até onde vai o jogo e quantas cartas tem esse baralho é difícil de dizer.

Entendo que, mais do que buscar a resposta sobre quem teria razão nesta briga sem regras, seria buscarmos entender o que isso tudo tem a ver conosco. Parece-me que esta batalha reflete o que vivenciamos em nossa sociedade. Reflexo de um espelho. Um “Big Brother” do cotidiano das nossas vidas.

Percebe-se nitidamente que sempre buscamos nas leis, as suas brechas, concessões e outros meios pelos quais possamos tirar proveito e sairmos ganhando, seja no condomínio, nos vestibulares, na fila do ônibus ou cinema, nas repartições públicas… Parece que somos sonegadores da verdade em detrimento da “minha” melhor verdade – aquela que da qual tiro vantagens.

Numa sociedade onde as instituições tornaram-se frágeis, ficamos à mercê de pessoas que utilizam tais estruturas em benefício próprio. Não é esta exatamente a crise apresentada nas casas executivas e legislativas espalhadas por toda a nação. Os corredores do Senado, Câmara dos Deputados, estados e municípios revelam o quanto de “jeitinho” é negociado nos bastidores da vida política deste país. É claro, que outros corredores não estão isentos, nem mesmo os televisivos que deveriam ter o compromisso com a boa informação.

Jesus Cristo nunca foi cúmplice de estrutura injusta, seja ela política, comercial ou religiosa. Diante dos (de)formadores de opinião, manipuladores das informações, daqueles que transformaram o templo em comércio e comércio num templo, Ele não hesitou em derrubar o ambiente armado e denunciar “o covil de salteadores” construído

Quando lugar de culto vira negócio ou quando negócio torna-se lugar de adoração, perdemos o compromisso com a verdade. Todo mundo se lambuza na auto-justificação em detrimento da justiça e da verdade. Para tais fica a palavra: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria opinião! Dos que por suborno absolvem o culpado, mas negam justiça ao inocente! Assim como a palha é consumida pelo fogo…as suas raízes apodrecerão e as suas flores, como pó, serão levadas pelo vento” (Is 5: 20-24).

Nenhum império universal ou estrutura global são eternos. Nem precisamos assistir os telejornais para sabermos disto, basta observarmos a história.

Texto Bíblico Utilizado: Isaías 5:20-24