Maria Helena Uliane - Revista Casal Feliz

Esta é uma declaração feita com frequência por pais no final do ano. Pais que trazem estampados no semblante os sentimentos mais contraditórios de um coração que experimenta a decepção, a impotência, a frustração, o fracasso, a raiva, o furor e outras tantas emoções que se misturam e que se expressam muitas vezes de forma inadequada, e que vão desde a tristeza e desolação até a resignação e ao pieguismo.

“Meu filho não consegue aprender porque está cheio de problemas. Ele é inteligente, coitadinho, mas é desajustado na escola e vive conflitos emocionais mais complicados …” Ou então: “Ele é tão distraído, não consegue se concentrar, nem decorar nada. Entende tudo errado porque tem dificuldade de prestar atenção no que a professora diz. Pobrezinho …” soluça aos prantos a mão de Bruno (9 anos, 2ª série). Há pais que se expressam através da raiva e da indignação: “Meu filho é vagabundo. Não estudou o ano inteiro, não cumpriu os deveres escolares, escondeu todas as provas e bilhetes da escola. É um grande preguiçoso que só pensa em brincar. É desinteressado, rebelde … Joguei meu dinheiro fora …” reclama o pai de Felipe (12 anos, 5ª série). Assim os pais passam a desfiar uma lista de promessas, de castigos e punições que acabam com todos os privilégios e regalias da criança e também com a alegria de toda a família no fim de ano.

A situação é desagradável? É, porém,a ntes de tomar qualquer atitude, é bom lembrar que já devem ter passado várias vezes pela cabeça de seu filho pensamentos do tipo “eu não valho nada, portanto não mereço ser amado”, “não sou capaz de aprender; sou realmente um fracasso!” Estes sentimentos podem desencadear uma auto-estima baixa e uma sensação de inadequação que poderá levá-lo a uma vida apagada, triste e retraída, ou a desenvolver mecanismo de defesa, como a mentira, a agressividade e a alienação.

Ceccon e Oliveira afirmam que a maioria dos pais acredita que a criança não tira boas notas porque é preguiçosa, pouco estudiosa ou dispersiva, mas na verdade a problemática é muito mais ampla e outros fatores como o desempenho do professor, a estrutura e o funcionamento do ensino, o material didático e a própria atuação dos pais deverão ser considerados no processo do desenvolvimento escolar.

A falha pode estar na escola. Nem sempre esta está bem equipada e possui uma equipe pedagógica especializada para entender as diferenças individuais da clientela. Pelo contrário, as condições de trabalho às vezes são bastante precárias. A isso se alia a formação de classes heterogêneas e superlotadas, a falta de material didático de boa qualidade e professores inexperientes que não retratam a realidade da aprendizagem. As normas e regulamentos escolares às vezes apresentam critérios tão rígidos que acabam criando situações que afetam ainda mais os resultados. “No terceiro atraso, já mandaram Lucinha de volta para casa, justo no dia de entregar o trabalho para nota …” ou “Na terceira advertência por comportamento inadequado, suspenderam Alex das aulas por três dias bem na semana dos provões”. “Ou aceitamos os regulamentos rigorosos e ultra-passados ou somos convidados a procurar outra escola”, reclamam muitos pais no portão da escola.

As escolas de formação de professores nem sempre preparam adequadamente o professor. Assim, eles não sabem ensinar, não se interessam pelas dificuldades de cada criança, faltam muito. Alguns não ajudam como deveriam, porque se sentem cansados, desanimados, frustrados, sobrecarregados e desvalorizados no trabalho. Muitas vezes até os pais se sentem desconfortáveis e humilhados diante do professor por acreditarem que ele tem poder de decidir o destino escolar de seu filho sem levar em conta todas as dificuldades que eles enfrentam.

O fracasso escolar começa bem antes do fim do ano. A criança, por sua vez, com medo de ser criticada e corrigida, vai ficando cada vez mais quieta no seu canto, com vergonha de falar, de perguntar para esclarecer suas dúvidas ou mesmo responder quando solicitadas. Não entende bem o que o professor diz, tem medo de dizer que não entende e isto dificulta ainda mais o acompanhamento das aulas. O pior é que a dificuldade não pára aí. Não conseguindo se expressar e raciocinar adequadamente, vai perdendo a motivação para continuar se esforçando e aos poucos se convencendo de que é fraca nos estudos. Daí, para a resignação de que o ano escolar está perdido, é um pulo. A criança fecha-se em sua apatia e desânimo e sua passividade a leva ou a alienar-se ou a tornar-se agressiva, barulhenta e indisciplinada.

As expectativas com relação à criança são muitos grandes. O desempenho escolar satisfatório é muito importante para a integração da personalidade infantil e o desenvolvimento da auto-estima. Por isso, é bom lembrar alguns fatores que provocam na maioria um estado de inquietação e tensão emocional muito grande.

  • A ênfase exagerada nas provas e avaliações;
  • O despotismo de alguns professores que detém o sistema de punições e recompensas;
  • A ameaça de pais muito exigentes e repressores, que privam de afeto e atenção o filho mal-sucedido;
  • A falta de exercício físicos ao ar livre, alimentação balanceada, etc.

Estes e outros fatores podem acabar criando na criança uma ansiedade crônica que atinge e desequilibra o funcionamento de seu organismo, desencadeando distúrbios psicossomáticos, como dores de cabeça, perturbações digestivas, cólicas, perda de apetite ou obesidade, disfunções cardíacas, problemas respiratórios e de pele, sono agitado, fobias e outras manifestações psicológicas que se agravam no final do período letivo com a reprovação.

Apoiar, o grande segredo. Sem se sentir apoiada e ajudada pelos professores e pais, a criança, mesmo tendo o potencial da inteligência, aos poucos vai se convencendo de que é realmente incapaz de aprender. Termina o ano escolar levando consigo a marca da humilhação e do fracasso, a certeza de que não conseguiu êxito porque é menos dotada, menos inteligente, considerando a si mesma inferior aos outros. Ela sente que não adianta continuar se esforçando e acaba por desistir porque não consegue compreender o que a escola espera dela. Este é o momento em que a criança mais precisa de compreensão, do apoio dos pais, e da segurança que lhe dá coragem e a energia para enfrentar as dificuldades do ano seguinte, a vergonha de ser o aluno repetente e a esperança de vencer, desta vez.

Seu filho precisa contar com você para ajudá-lo a superar esta fase difícil de sua vida. Ele precisa saber que é importante pelo que é, e não por que corresponde à sua expectativa. Ele necessita saber que é especial não pelo resultados no boletim escolar, mas pelo que ele é. Você, pai, e você, mãe, precisam ver que seu pequenino é uma criança que tem seu próprio ritmo de crescimento, e que o seu desenvolvimento se faz em etapas, o que significa, às vezes, regressões e paralisações.

Quanto mais seguro seu filho se sentir para recuar, ressalta Briggs, mais livre estará para crescer. Na verdade, o que o seu filho mais espera de você é uma postura respeitosa e amiga diante de seu sofrimento. Essa é a sua mais poderosa prova de amor!

Você conhece alguém nessa situação? Passe esta mensagem para ele.