L. Roberto Silvado

Estamos todos chocados, revoltados, indignados, inconformados, assustados com a fogueira de índio feita em Brasília. Será que saberíamos do ocorrido não fosse queimado um índio na semana do índio? Com muita facilidade condenamos o gesto “anti-ecológico” daqueles jovens brasileiros. Será que a causa da violência deles era fome? Falta de oportunidade para receber educação? Foi terem que andar pelas ruas pedindo esmolas explorados por adultos? Será que lhes faltaram momentos de lazer? …

O que nos assusta como sociedade é que não podemos usar as nossas argumentações simplistas para explicar o inexplicável do comportamento destes jovens. Somos obrigados como sociedade a enfrentar o nosso pouco caso pelo próximo, seja índio ou não. Somos obrigados a ver cara a cara que violência não é resultado simplesmente das mazelas sociais do nosso país.

Um paradigma foi quebrado diante de nós. Bem alimentados, instruídos como poucos brasileiros o são, classe média, filhos de qualquer um de nós … um desatino emocional! Fenômeno de grupo que leva pessoas a fazerem o que provavelmente não fariam a sós. Valores que permeiam as relações humanas na nossa sociedade concretizados diante de nós. As nossas mais feias atitudes vão até as últimas conseqüências. O que deve preocupar-nos não é apenas o tocar fogo no índio, mas a naturalidade com que valores pessoais foram expressos ao dizer: “Eu pensei que fosse um mendigo!” Alguém sem ninguém! É claro que conscientemente qualquer pessoa coerente seria contra. Mas será que com as nossas ações muitas vezes não estamos dizendo o mesmo que estes jovens? Quando tratamos mendigos, índios, meninos de rua como algo menor do que seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, não estamos queimando-os vivos?

Antes de julgarmos e condenarmos estes jovens pelo crime cometido creio que precisamos como indivíduos e sociedade refletir nas palavras de Jesus:

“Por que é que você olha o cisco que está no olho do seu próximo e não vê o pedaço de madeira que está no seu próprio olho? Como pode dizer ao seu próximo: ‘Deixe-me tirar este cisco do seu olho’, quando você tem um pedaço de madeira no seu próprio olho? Hipócrita, tire primeiro o pedaço de madeira que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu próximo.”

Como será fácil para aquele juiz condenar os jovens e sair dali matando socialmente o funcionário do tribunal de justiça, a empregada doméstica na sua casa, etc. Juizes que julgam devem lutar por uma sociedade mais justa! Como é fácil para nós condenarmos aqueles jovens e pela nossa atitude para com os “mendigos da vida” reforçar o conceito de que “com mendigos é permitido”.

Alguma justiça estará sendo feita neste caso porque alguém se envolveu e anotou a placa do carro. Quantas vezes eu e você nos omitimos por medo ou comodismo, permitindo que “mendigos da vida sejam tratados como objetos”. Se vamos influenciar a nossa sociedade para fazê-la mais justa precisamos retirar o “pedaço de madeira dos nossos olhos” e ajudarmos o nosso próximo a “retirar o cisco do seu”.

Quero desafiá-lo hoje a refletir e conversar com alguém sobre a necessidade de mudarmos as nossas atitudes, valores e ações! Identifique uma mudança necessária e peça ajuda ao nosso Pai Celeste.

“… se alguém tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, e ele dará porque é generoso e dá com bondade a todos. Porém peçam com fé e não duvidem de jeito nenhum, pois quem duvida é como as ondas do mar, que o vento leva de um lado para o outro.”

Texto Bíblico Utilizado: Mateus 7: -6; Tiago 1:5,6.