Júlio Oliveira Sanches

vivendo-acima-do-perigoO Rio, o Ivinhema. Sob as águas tépidas um tronco submerso. Um pequeno galho seco sobressai o marolar das águas. Creio, um metro e meio acima da correnteza. Altura suficiente para não ser coberto na próxima enchente do rio. Na extremidade do galho um pequeno oco. Largura suficiente para permitir a entrada de duas lindas andorinhas brancas.

Românticas, ali construíram o seu ninho. Lá estavam os filhotes. Sempre famintos a chilrar a música do quero mais. Para atendê-los, pai e mãe andorinha iam e vinham céleres com o alimento predileto dos pequenos famintos. Pequeníssimos insetos.

À noite, resolvemos aproximar com o barco. Investigar aquela família especial a transmitir uma bela aventura de fé. O que vimos não há como descrever em palavras. Quadros há na vida que a própria vida não consegue explicar. Ou melhor, não conseguimos entender a exposição deles.

Ali estavam dois pequeninos pássaros que sobrevivem de minúsculos insetos, reunidos em família, sob a proteção do argênteo luar a refletir sobre as águas. Um deles montava guarda à porta do ninho, enquanto o outro aquecia com suas macias penas os filhotes.

Não falamos. Apenas admiramos. Em silêncio e respeitosamente deixamos o barco deslizar sobre as águas. Aquele ninho, no pequenino buraco de um galho seco sobre as águas possuía e transmitia uma mensagem desafiadora a nós humanos.

Encantado com a beleza daquelas andorinhas brancas, à mente chegou o corre-corre diário de todos nós. Casas equipadas com mil e um móveis, mas sem a paz e a tranqüilidade daquele ninho. Famílias reunidas e desunidas sob o mesmo teto, mas sem o calor daquele amor a aquecer os filhos. Despensa, geladeira, freezer repletos de guloseimas especiais contrastando com aquele ninho que não possui nenhuma reserva alimentícia para o dia seguinte. Razão simples: aquelas andorinhas comprovam a bela afirmação de Jesus Cristo a desafiar: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber, nem quanto ao vosso corpo pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais que o mantimento, e o corpo mais que o vestido? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros, e o vosso pai celestial as alimenta. Não tende vós muito mais valor que elas?” (Mateus 6:25-26)

Claro que temos mais valor que uma pequena andorinhas, mas às vezes não cremos neste valor. Temos mais inteligência e construímos casas mais seguras, mas não conseguimos envolvê-las com a paz existente naquele ninho. Colocamos chaves, cadeados, segredos e alarmes em nossas casas, mas não conquistamos a segurança e a tranqüilidade daquele ninho. Por quê?

Razão simples: Falta-nos a capacidade de descansar nas promessas divinas. Saber que o Senhor cuida de nossas criaturas. Que é possível construir sobre a correnteza da própria violência moderna e descansar em paz sob a proteção do Senhor. Vivemos sempre em perigo e nele envolto. Deus, no entanto, desafia-nos a viver acima do perigo convictos de que jamais seremos abandona-dos.

No correr dos dias do ano, no vai-e-vem febril da vida agitada que o envolve, é bom parar e contemplar duas andorinhas com seus pequeninos filhotes (vale a redundância) a desafiar-nos: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia n’Ele e Ele tudo fará.” (Salmos 37:5), pois “basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:14). Assim procedendo, você será feliz.