Ana Luzia Tocafundo - Assistente Social em Belo Horizonte

Vou contar-lhe um fato corriqueiro, que inesperadamente, trouxe-me uma grande lição de vida. Era um fim de tarde de sábado, eu estava molhando o jardim da minha casa, quando fui interpelada por um garrotinho com pouco mais de 9 anos, dizendo:

Dona, tem pão velho?

(Essa coisa de pedir pão velho sempre me incomodou desde criança. Na adolescência, descobri que pedir pão velho era dizer: “Me dá o pão que era meu e ficou na sua casa”)

Olhei para aquela criança, tão nostálgica, e perguntei:

Onde você mora?
Depois do zoológico.
Bem longe, hein!
É … mas eu tenho que pedir as coisas para comer.
Você está na escola?
Não. Minha mãe não pode comprar material.
Seu pai mora com vocês?
Ele sumiu.

E o papo prosseguiu, até que eu lhe disse:

Vou buscar o pão, serve pão novo?
Não precisa não, a senhora já conversou comigo!

Esta resposta caiu em mim como um raio.

Tive a sensação de ter absorvido toda a solidão e a falta de amor desta criança. Deste menino de apenas 9 anos, sem brinquedos, sem comida, já sem sonhos, sem escola e tão necessitado de um papo, de uma conversa amiga. Que poder mágico tem o gesto de falar e ouvir com amor!

Alguns anos já se passaram e continuam pedindo “pão velho” na minha casa e eu dando “pão novo”, mas procurando antes compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem. Este pão de amor não fica velho, porque é fabricado no coração de quem acredita naquele que disse: “Eu sou o pão da vida”

E deixou-nos um novo mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Depois daquele sábado, eu acho que pedir “pão velho” significa dizer:

Converse comigo, dê-me a alegria de ser amado.