Eduardo Pena

O folclore brasileiro é recheado de figuras que não tem outra função a não ser causar medo e insegurança: Boi Tatá, Saci Pererê, Mula-Sem-Cabeça, “Cuidado com a Cuca, que a Cuca te Pega”, “Boi da Cara Preta que pega a criança que tem medo de careta”.

Influenciado pelo folclore alemão, no sul do país tem a figura do Pelz Nickel – espécie de Darth Vader do Papai Noel. Um monstro do mato que na época do Natal, com chicote e sinos, vem atormentar as crianças que não se comportaram direitinho durante o ano. Qual a razão de uma figura como o Pelz Nickel, que vem despertar os medos mais obscuros das crianças (e também dos adultos)?

São figuras do imaginário coletivo que vão alimentando os fantasmas do medo e nos deixando desconfiados de que sempre tem alguma coisa na escuridão da esquina à frente nos esperando para dar o bote. Engraçado como temos medo do escuro! Uma vez que vivemos tempos em que controlamos a claridade e vamos prolongando cada vez mais o dia, a noite tem ficado cada vez mais iluminada. Assim, parece que estamos desaprendendo a conviver com o escuro. E escuridão traz incertezas que geram insegurança – o alimento do medo.

C.S. Lewis traz nas suas Crônicas de Nárnia o que acontece às criaturas num mundo não-humano aprisionados pelo medo. Lá, o medo ia definhando a vida. Os seres viviam sussurrando e pisando com cuidado, pois as armadilhas poderiam estar em qualquer lugar. No caso de Nárnia, uma figura se alimentava dessa situação, criando e espalhando o medo e assim, se empoderando. A Feiticeira Branca era a única figura que lucrava com o aprisionamento dos narnianos. A função dela era roubar qualquer fonte de esperança de que uma nova Nárnia poderia ser possível.

O engraçado é que todos sabiam de uma profecia que falava que um dia haveria a libertação, e que uma restauração viria pela presença de Aslan (o poderoso leão criador). Aslan era a personificação dessa redenção tão esperada e, paralelamente, a única desgraça para os usurpadores do poder e propagadores do medo. A redenção não era uma fórmula ou uma causalidade… era um ser; tão benevolente quanto poderoso. Sua presença irradiava luz que alimentava vida por onde passava, entornando poesias construtoras de jardins, como uma brisa, que no seu sopro, sussurra cumplicidades revigorantes às pétalas multicoloridas.

Assim como em Nárnia, o Natal é um lembrete para nós, seres assustados por um mundo de inseguranças. Lembrarmos de que existe a história da redenção; o “Kairos” dando compasso ao “Kronos”. Só que os muros da nossa era vêm nos cegando – como um labirinto onde o Minotauro ou um Fauno ficam de plantão para nos fazer desistir do caminho da manjedoura – onde reside a nobreza da mensagem do Natal.

“Para dar ao seu povo o conhecimento da salvação, mediante o perdão dos seus pecados, por causa das ternas misericórdias de nosso Deus, pelas quais do alto nos visitará o sol nascente, para brilhar sobre aqueles que estão vivendo nas trevas e na sombra da morte, e guiar nossos pés no caminho da paz.” (Lucas 1:77-79)

Ou seja, o processo da recriação já começou antes mesmo da falência da nossa história por alguém que sabe conduzir a história a seu bom termo: Jesus!

A esperança nasceu antes do desespero! A graça antes da condenação! A salvação antes da perdição! A cruz salvadora antes da manjedoura! A ressurreição antes da morte! O consolo antes das lágrimas! O movimento antes do tempo! A Esperança e a Paz antes do medo…e contra ele!

Texto Bíblico Utilizado: Lucas 1:77-79