Eduardo Pena

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Quando cai um avião e mata 150 pessoas por causa da decisão de um copiloto que, pelo que tudo indica, se cansou da vida, nos faz pensar no “por quê?” disso. Como um ser humano pode chegar a tal ponto de decisão que implica acabar com a vida de várias pessoas, as quais ele deveria proteger e cuidar?

Os investigadores do caso estão atrás de pistas que possam estabelecer os motivos que levaram o jovem copiloto Andreas Lubitz a cometer suicídio derrubando o próprio avião que pilotava, um Airbus da Germanwings/Lufthansa, jogando-o ao chão no dia 24 de março de 2015.

Se de fato for isso que explica o acidente desse avião que caiu nos Alpes franceses, a palavra “acidente” deve trazer consigo uma outra palavra parecida: “incidente”. Pois, uma vez que alguém deliberadamente agiu para que isso ocorresse, nos faz pensar nos “incidentes” que motivaram tal ação que provocou o “acidente”.

E é justamente isso que, inquietas, as pessoas estão agora tentando descobrir: O “incidente” por trás do “acidente”. Uma resposta difícil, não só de descobrir, mas, sobretudo, de entender, pela complexidade que é o ser humano e suas tramas existenciais.

Uma das questões que se levantam é sobre a “liberdade” e o “direito” da decisão. Pois, não tendo ele o “direito” de tirar a vida das pessoas, lança mão da “liberdade”, do “conhecimento”, da “competência” técnica, do poder de “decidir” contra a confiança das pessoas. A decisão voluntária de um único levando, involuntariamente, todos os demais consigo para a morte.

É claro que não se pode ignorar os efeitos e o poder de uma crise emocional sobre uma pessoa afetada pela depressão – como é a suspeita que recai sobre Andreas Lubitz. Mas também não podemos ser simplistas e céleres em querer rotular determinado grupo de pessoas como mais vulnerável a ter comportamentos “desviantes” – e que podem chegar a atos homicidas.

Pessoas são histórias ambulantes. E histórias são um encadeamento de fatos, episódios e incidentes pequenos, que silenciosamente, podem ir minando nossa maneira de responder à vida. Muitas vezes, não nos damos conta de que somos resultados de muitas ligações (físicas, emocionais, químicas, culturais, espirituais) e que há muitas expectativas lançadas sobre nós.

A atualidade não nos prepara para lidarmos com frustrações. Pelo contrário, o apelo a uma carreira de sucesso tem criado um tipo de sociedade que nega os seus fracassos. Por isso, como medir o peso de um atestado médico que denuncia que você simplesmente não serve para ser aquilo com o qual sempre sonhou? Como não se sentir culpado ou injustiçado pelas circunstâncias da vida, especialmente por uma doença da qual você não pediu para ter?

O atestado médico encontrado amassado e rasgado, ocultamente, na lixeira da casa de Andreas Lubitz, sem que alguém percebesse de antemão, seria portanto, o projeto do avião “jogado fora” pelas mesmas mãos de quem não suportava mais a dor de ser descartado?

Que possamos criar mecanismos inter-relacionais que percebam e permitam que pessoas como Andreas Lubitz sejam acolhidas nos seus fracassos e que, olhando para nós, possam ser dissuadidas de qualquer ideia de desperdício ou desistência da vida… e muito menos, da vida alheia. Que nossas mãos sejam cúmplices apenas dos atestados que promovam acolhimento.

“Sonda-me, ó Deus, e analisa o meu coração. Examina-me e avalia as minhas inquietações!” (Bíblia, Salmo 139:23)

Texto Bíblico Utilizado: Salmo 139:23